A aluna Cléo Bernardina Seidel Vignati, de 13 anos, que estuda no sétimo ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Esther da Costa Santos, em Vila Pavão foi a única aluna do município a ter o trabalho classificado para a fase estadual da Olímpiada de Língua Portuguesa (OLP) – Escrevendo o Futuro – Memórias Literárias.
Cléo produziu um texto baseado na entrevista feita com uma moradora do Município, Dulce Ost, 70 anos, de descendência pomerana, raça que predomina na região. O texto tem como título ‘As Fadas e Minhas Memórias’ e foi produzido junto à Professora Maria Gorete de Lima Servare, que leciona na Esther da Costa.
Participam da OLP professores da rede pública e seus alunos do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, nas seguintes categorias:
Poema: 5º e 6º anos do Ensino Fundamental; Memórias literárias: 7º e 8º anos do Ensino Fundamental; Crônica: 9º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio e Artigo de opinião: 2º e 3º anos do Ensino Médio.
Para além da seleção e premiação de textos, a Olimpíada propõe para o professor de língua portuguesa uma formação que o auxilie na reflexão e compreensão da função social da escrita, fortalecendo o seu trabalho em sala de aula.
A experiência de produção de textos possibilita aos alunos a ampliação de suas competências na linguagem oral, na leitura e na escrita, além de aprofundar o olhar sobre o lugar em que vivem, aproximando a comunidade da escola.
Ao todo em sua fase final a OLP terá 500 alunos semifinalistas e seus professores, que serão premiados com medalha, livros e participação em oficinas culturais e de formação.
Na fase mais aguda serão 152 alunos finalistas e seus professores com premiação de medalha e um tablet. Para as 152 escolas finalistas, placa de homenagem. Aos 28 professores semifinalistas, vencedores na categoria Relato de Prática, um notebook. Aos 20 alunos vencedores e seus professores, medalha, um notebook e uma impressora.
Por fim, para as escolas dos 20 vencedores, 10 computadores, uma impressora, um projetor, um telão para projeção e livros.
O texto classificado de Cléo Bernardina Seidel Vignati
“As fadas e minha memórias”
Com o som dos fortes ventos, que afloravam dentro das grandes copas das árvores que havia no meu jardim, eu abria os olhos com mansidão, com o desejo de ficar mais uns minutos no calor da minha cama, mas mamãe da cozinha chamava-me de uma forma muito carinhosa. -Gunmorgen, hübsch! Esse “bom dia, querida”, dado por ela me fazia despertar para um novo dia. E enquanto arrumava-me para a escola, da janela do meu quarto, eu observava a velha igrejinha coberta pela neblina que a deixava mais bela. Nem sei se realmente aquela beleza existiu ou se são apenas lembranças que guardo somente na minha imaginação. Hoje, em seu lugar foi construída a “Igrejona” ponto turístico da minha Cidade Vila Pavão, famosa por sua grande torre e formosa por seus três sinos de cobre que podem ser ouvidos a quilômetros de distância.
As lembranças de súbito voltam e se reportam àquele tempo que com os pés descalços e um “Töfel” – quadro de giz, em pomerano – nas mãos, caminhávamos em direção à escola. O chão de terra umedecido pelo sereno deixavam nossos pés frios, dando-nos uma sensação de frescor.
Nessa época, estudar era tão difícil como comer um morango e separar as sementes, pois eu de descendência tradicional alemã só falava pomerano e não compreendia as palavras que eram pronunciadas na escola, pois as mesmas eram em português. Esse fato dificultou meu aprendizado e me atrasou em relação aos outros alunos. Mas Dona Ana, uma moça com ar jovial, que expressava em seu rosto vitória e em suas mãos calejadas a conquista de seu trabalho, ensinou-me uma nova língua que, para mim, foi inédita. Quando comecei a rabiscar as primeiras sílabas em meu pequeno quadro, a emoção tomava conta de mim, o conhecimento que conquistava a cada dia me fortalecia. E agora, além da doce voz de mamãe que me impulsionava a levantar da cama com o seu desejo de: – Gunmorgen, hübsch! E a vontade de aprender essa nova língua também me despertava, de um mundo de sonhos, para um mundo de descobertas.
E a rotina continuava, porém naquela escola de madeira, pintada de azul e branca, eu, algo novo aprendia. O recreio era o mais esperado, era o momento em que tentava me comunicar com meus colegas, mesmo que por sinais.
Foi ali, que conheci o famoso “torrão de açúcar” que recebia o nome um tanto estranho de “rapadura”. Ah! Como era bom aquele doce, que palpitava em minha saliva trazendo uma explosão de novos sabores.
Às tardes, eram reservadas para as brincadeiras, adorava cozinhar e sentia–me responsável como gente grande. Entretanto, aquelas responsabilidades me faziam cansar e voltava a brincar de rodinha, passa anel, pega-pega… Naquela época, tudo era mais lúdico e encantador, e eu sei que os momentos mágicos, realmente, existiram naquele jardim que rodeava minha casa.
Minha juventude foi um tanto insossa. Até que um dia… O amor e as responsabilidades bateram à minha porta, mas desta vez tudo era de verdade, e eu abri com um largo sorriso no rosto. Oh! O amor sentimento que faz o coração bater mais rápido, tum-tum-tum, sentimento que faz as pernas tremerem e as pupilas dilatarem é o sentimento que talvez usaram para descrever a expressão: “tem borboletas em meu estômago”.
Enfim, chegou o dia tão sonhado, o casamento. O casamento durou quatro dias de pura festa e alegria como pedia a ocasião e a tradição pomerana. Era uma realização, tudo correu de acordo com o costume. O primeiro dia, era o de
“quebra pratos” em que os convidados jogavam pratos no chão e nos desafiavam a dançar por cima, sinto dizer, que meus pés frágeis ardiam com tantos cacos perfurando minha pele fina, mas no momento tudo o que eu conseguia pensar era na felicidade que estava sentindo. No segundo dia, era a cerimônia na igreja e eu estava realmente divina, sem querer ser convencida. Os outros dias eram de festa, dança, e claro, muita fartura de felicidade e comida. Hum! E as fadas? As fadas que viviam em meu jardim e que povoam ainda hoje a minha imaginação, confortam-me e fazem-me lembrar da magia que vivi no passado. Hoje, com 70 anos, vivo plenamente feliz, sonhando um dia em ser acordada com a doce voz de mamãe me chamando: “-Gunmorgen, hübsch”!
(Texto baseado na entrevistada feita com a Srª Dulce Ost, 70 anos).
Extraído do jornal Correio 9.