Matéria originalmente publicada em maio de 2014.
Vila Notícias
Por Eliana Nascimento e Vander Vigne
Neste dia das mães vamos prestar uma homenagem à aquela que ajudou muitos pavoenses a nascer. Dona Arcendina Alvarenga do Nascimento que além de gerar seus 21 filhos, ajudou outros 380 a nascerem.
Ela Nasceu no dia 10 de junho de 1929, no distrito de Colatina, chamado de Barracão de Baunilha. Casou-se pela primeira vez com Urusino Gonçalves do Nascimento. Viveram 68 anos juntos. Tiveram 21 filhos, no qual treze morreram e 08 sobreviveram, 28 netos e 18 bisnetos. Conta dona Arcendina que perdeu os filhos devido às constantes febres que existiam na época, como: meningite, ‘paratife’, febre amarela, “eles nasciam quando tinham 01 ou 02 anos pegavam febre, e morriam porque na época só existiam tratadores, e quando levava ao médico, ele mandava esperar, quando ele via que não tinha jeito, mandava embora e a criança morria, às vezes no meio da estrada.Tudo era a base de chá, só sobreviviam aqueles que Deus queria, a condição financeira não era boa e a distância não ajudava” diz dona Arcendina.
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Dona Arcendina chegou ao município de Vila Pavão por volta dos anos 60, morou em vários Córregos da região. Somente nos anos 70 mudou-se para a sede de Vila Pavão. O local em que reside hoje, no bairro Ondina, era um pasto e o lote foi doado na época pela Prefeitura. Sua casa foi construída com ajuda de amigos que ela estima muito. Ela viu a cidade crescer: “aqui tudo era mata, não existia quase nada, era muita pobreza”, conta.
Um dom de Deus
Na sua trajetória de vida dona Arcedina desenvolveu uma habilidade, um dom de Deus: como ela mesmo diz: “ajudei muitas mães a dar a luz aos seus filhos.”
Conta que começou seu trabalho de parteira por um acaso ”Certo dia minha sogra, Nilda precisou fazer um parto e pediu a minha ajuda. Não teve jeito, comecei a partir daquele momento e só parei de fazer partos por volta dos anos 90.”
Relata a filha, Neuza Gonçalves do Nascimento, que os registros dos partos eram feitos em folhas avulsas. Quando tinha uns 12 anos resolveu passar a limpo as informações como a identificação da mãe, hora e dia do nascimento e o sexo da criança. Naquela época, Dona Arcendina ficava semanas fora de casa e as pessoas contribuíam financeiramente com o que podiam e como podiam.
”Não tinha dia e nem hora, nem sol e chuva. Enfrentava perigos como atravessar por pontes mal feitas como a de São Gonçalo, antiga Formiga, que eu tinha que passar a pé ou a cavalo para fazer os partos”, relata dona Arcendina.
Não sabia ler e nem escrever, mas fez curso de parteira/enfermagem em 1968. Foi convidada pela Dona Nélia Buge Rossim que era professora na época para fazer a formação. As parteiras só podiam continuar a formação se fossem aprovadas no teste prático. “O médico usava um bonecão grande, com umbigo de pano, costurado. Ai lavava-se as mão muito bem lavada, e enxugava. Media naquele umbingo do boneco e fazia de conta que cortava. O médico olhando se tinha coisa errada. Quem cortava no lugar certo passava, quem media e cortava errado era reprovado”, diz.
Há em seus cadernos de registros, partos realizados desde 1960 até os anos 90. Os últimos partos foram feitos nos primeiros anos de Emancipação de Vila Pavão. Um deles foi o de uma mãe de Todos os Anjos que veio para ganhar o seu bebê, ia ser levada para Nova Venécia em um carro da Prefeitura, porém não deu tempo, ai alguém da prefeitura pediu para ela fazer o parto às pressas.
“Eu sou muito feliz, não me arrependo de nada”. Até hoje todos me tomam benção, me abraçam e as mães lembram: este é seu filho”, diz orgulhosa Dona Arcendina.
Quando perguntamos a esta grande mãe qual o conselho que daria para aos mais jovens, ela respondeu prontamente: “temos que seguir o caminho de Deus, o caminho de Deus é o bom caminho”.
E quando perguntamos o que mais a fazia feliz hoje, ela nos surpreendeu dizendo: “a minha maior alegria é vocês terem parado para ouvir a minha história. Este foi o meu presente dos dias das mães”.
A sua filha acrescentou: “antigamente as pessoas contavam entre si suas histórias, hoje a televisão e o computador aproximam as pessoas distantes e afastam as pessoas mais próximas”.
E concluindo, a mãe de tantos filhos pavoenses, falou: “Se eu tivesse minhas pernas boas eu voltava a parteirar”.
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