
Alunos do Instituto Federal do Espírito Santo realizaram um protesto pacífico e informativo contra o corte de verbas na Educação, na manhã desta quinta-feira (09), pelas ruas de Nova Venécia. Aproximadamente 150 pessoas, incluindo alunos e professores, participaram da mobilização, que contou com o apoio da Polícia Militar do Espírito Santo. Atualmente o campus atende 2443 alunos, provenientes de Nova Venécia e mais treze municípios, tendo um impacto social e econômico muito grande para Nova Venécia, já que, além de formar profissionais capacitados, existe um estreitamento com o arranjo produtivo local, atendendo demandas importantes para o desenvolvimento da região.
Os estudantes se concentraram em frente ao Ifes, de onde saíram por volta das 8h30. Seguiram pela Rodovia Estadual 381, ocupando uma das faixas da via, não obstruindo totalmente o fluxo de carros, que passavam no momento. Houve um desvio da manifestação na rua Mateus Toscano, para que os alunos pudessem falar com os estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Dom Daniel Comboni, já que os cortes previstos também afetarão a educação básica. Após este momento, retornaram à Avenida Vitória, e finalizaram a manifestação na Praça Jones Santos Neves.
Com diversos cartazes confeccionados pelos estudantes, eles buscavam chamar a atenção da população para as consequências que este corte de verbas pode causar se for concretizado. Também distribuíram folhetins, com informações mais detalhadas, além de, a todo o momento, com o auxílio de um carro de som, falarem sobre os impactos para as pessoas que assistiam o protesto, e ainda entoaram palavras de ordem, que demonstravam a preocupação com a Educação do Brasil.
O professor do Ifes de Nova Venécia, Weverton Sacramento disse ao Correio9 que os professores foram surpreendidos pela iniciativa dos alunos, que em pouco tempo, se organizaram, através do Centro Acadêmico e Grêmio Estudantil, e convocaram os professores a participar. “Com ou sem a participação dos professores, os alunos estavam decididos a realizarem a manifestação. O diretor, rapidamente, junto com a instituição, precisou se reestruturar para legitimar a autonomia dos alunos, que têm todo o direito de protestarem”, afirma Weverton.
O estudante do curso de Licenciatura em Geografia, Leandro França comenta sobre o próximo ato e pede o apoio da população veneciana para com os estudantes: “Nós precisamos do apoio dos estudantes, mas, principalmente, de toda a população. Esse é um movimento estudantil, mas, acima de tudo, um movimento populacional. Na próxima quarta-feira (15), haverá um movimento nacional e precisamos das pessoas para nos auxiliar. Acontecerá um ato em frente à instituição e depois viremos pelo mesmo caminho de hoje, conscientizando a população para que entenda a gravidade deste corte de verbas. A programação completa do movimento do dia 15 ainda será definida através de assembleia geral, realizada entre os estudantes. Posteriormente serão divulgadas maiores informações sobre a manifestação deste dia. Toda a população está convidada a participar, pais, alunos, professores, todos os envolvidos no processo educacional”, relata.
O diretor-geral do Ifes de Nova Venécia, Anderson Rozeno Bozzetti Batista declara que os estudantes se mobilizaram pelo reconhecimento da importância da instituição, já que o instituto favorece uma formação social e profissional gratuita e de qualidade. “Essa ação mostra um feedback do trabalho que é realizado pelo instituto, os alunos não querem sofrer com a qualidade do serviço prestado. Imagine os alunos não poderem ter aula técnica por falta de energia elétrica, seria um caos. O corte afetará o instituto como um todo, lembrando que o corte é referente ao valor que chega para pagar os serviços básicos, onde 80% do valor são referentes a contratos como água, energia, telefone, terceirizados, entre outros e os outros 20% são para compras de materiais de laboratórios, escritório, bolsas estudantis, materiais de limpeza, materiais didáticos, e outros itens necessários à manutenção das atividades de ensino pesquisa e extensão”, salientou Bozzetti.
O diretor fala também sobre os cortes anteriores que já vinham afetando o funcionamento da instituição, e mostra a preocupação com essa nova situação. “Vale ressaltar que o valor que recebemos de custeio sofre queda desde 2015 e que há três anos temos esse valor congelado, mesmo com todas as atualizações de valores em contratos, devido a inflação e outras atualizações monetárias do país. Com isso, o Ifes já vem flexibilizando seus planejamentos, revendo estratégias para que consiga trabalhar com qualidade mesmo com os cortes. Em 2016, tínhamos cerca de 50 profissionais contratados por empresa terceirizada para prestar serviços de limpeza, manutenção, recepção e vigilância, que atendiam a demanda total do campus; hoje, com os cortes que já tivemos, temos o quantitativo de 24 profissionais, ou seja, o quadro já foi reduzido em mais de 50%. Somente a equipe da limpeza tinha 34 profissionais, hoje, temos 12, com isso, não existe a possibilidade de limpar toda a área da escola diariamente, havendo necessidade de fazer um rodízio para limpeza de cada ambiente, ambientes esses que em geral são usados diariamente. Caso ocorra mais esse corte que foi divulgado, ficará muito difícil a realização de várias atividades. Estamos buscando que o governo reveja esse corte, pois, se ele não rever, só teríamos condição de ofertar o serviço de qualidade igual ofertamos para a sociedade no momento, até o mês de setembro. Afinal, um corte de 38% inviabiliza não só os contratos já formados, mas a própria gestão e manutenção das atividades diárias de sala de aula”, revela Anderson.
Uma aluna recitou um poema que dizia: “Tira a mão do meu IF: que sorte para os ditadores, que os homens não pensem, disse Hitler uma vez, e parece que nos dias atuais, essa ideia não se desfez. Querem acabar com as nossas escolas, sucatear nossas universidades, minar as aulas de História, limitar as nossas capacidades. Dizem não ter dinheiro, e que nós o desperdiçamos, vai dizer isso para o empreiteiro, que desvia verba há anos. Filosofia e Sociologia são faculdades do saber, sem elas a gente não pensa, sem elas a gente não vê. Arte é ferramenta de transformação, com arte a gente muda e desenvolve a nação. Educação é a base, é o que edifica, sem ela somos máquinas, sem ela não há vida. Tira a mão do meu IF, tira a mão da minha escola, universidade é coisa séria e nossa verba não é esmola”.
Informações: Correio 9.