
No próximo dia 1º de julho, Vila Pavão comemora 35 anos de emancipação política, reafirmando seu compromisso com a preservação das raízes, da agricultura familiar e da diversidade cultural. Com a maior parte da população vivendo na zona rural, o município se destaca pela valorização das pequenas propriedades, que garantem o sustento das famílias e mantêm vivas as tradições locais.
A história de Vila Pavão é profundamente marcada pela influência pomerana, mas também por uma rica mistura de outros grupos étnicos, o que levou o município a se autodenominar a “Capital da Cultura Popular”. Um dos símbolos mais expressivos dessa diversidade é o movimento Pomitafro, que teve início como uma simples festa escolar e se transformou em um dos maiores eventos culturais do Espírito Santo.
A trajetória rumo à autonomia, no entanto, não foi fácil. O primeiro passo foi dado em 1987, quando um grupo liderado pelo professor Hélio Timm reuniu 107 assinaturas em um abaixo-assinado, mas o projeto não avançou. No ano seguinte, o então distrito de Córrego Grande (nome original de Vila Pavão) elegeu um número recorde de cinco vereadores, sinalizando o fortalecimento político da região.
Em 1989, a luta pela emancipação ganhou novo fôlego com a liderança do vereador Antônio Teixeira Maria (PT), que encabeçou um movimento intenso e estratégico. O processo incluiu debates públicos, estudos técnicos e a elaboração de um projeto de lei que demonstrasse a viabilidade política e administrativa do futuro município.
A criação do grupo EmanciPavão foi um divisor de águas. Reunindo-se religiosamente às segundas-feiras, o grupo tornou-se o motor do movimento, organizando mutirões para consertar estradas, promovendo palestras com candidatos a deputado e exigindo o compromisso deles com a causa da emancipação. Lideranças como Jorge Kuster Jacob, Norma Fleischman e Isaura Ramlow estavam à frente das ações, enquanto experiências bem-sucedidas de recém-emancipados, como Santa Maria de Jetibá e Águia Branca, serviam de inspiração.
A caminhada foi árdua. A elite econômica local se opunha à separação, chegando ao ponto de ameaças de morte contra membros do movimento. Em determinado momento, o vereador Teixeira precisou fazer guarda armada na casa de um dos integrantes. Ainda assim, a força popular prevaleceu. No plebiscito histórico de 1º de julho de 1990, apenas 107 votos foram contrários à emancipação — uma vitória esmagadora que selou o desejo coletivo por liberdade política e administrativa.
A emancipação foi oficializada por lei estadual em 11 de janeiro de 1991, mas o povo escolheu celebrar sua autonomia na data do plebiscito — uma homenagem à coragem, união e perseverança de toda uma comunidade.

A primeira eleição foi realizada no dia 03 de outubro de 1992. Em 1º de janeiro de 1993, prefeito, vice-prefeito e vereadores foram empossados na varanda da Secretaria de Cultura (hoje) e Prefeitura Municipal (na época), imóvel adquirido do Sr. Emilio Berger (in memoriam), com recursos angariados de uma festa. Importante destacar que os recursos arrecadados não cobriram o valor do imóvel, mas, mesmo assim Sr. Emilio Berger, o repassou para o novo município
Trinta e cinco anos depois, Vila Pavão colhe os frutos dessa luta: uma identidade cultural pulsante, uma agricultura familiar resiliente e uma comunidade que aprendeu a transformar desafios em conquistas.
Além da mobilização política, a valorização da identidade cultural foi essencial nesse processo. O fortalecimento do Grupo de Danças Folclóricas Pomeranas e da Pomitafro impulsionou a participação popular, fortalecendo os laços comunitários. Para o sociólogo Jorge Kuster Jacob, um dos principais articuladores da emancipação, o processo foi mais do que político — foi também cultural e social.
Hoje, mesmo sendo um dos menores municípios do Espírito Santo em extensão territorial e economia, Vila Pavão é referência na preservação da cultura tradicional e no fortalecimento da agricultura familiar.

“Se os investimentos na estrutura da cidade, na cultura local, na agricultura familiar e na diversidade cultural continuarem no mesmo ritmo, em breve seremos uma cidade modelo para o Brasil”, destaca Jorge Kuster Jacob.
Com uma história construída sobre resistência, união e orgulho de suas raízes, Vila Pavão continua a escrever seu legado. Pequena em tamanho, mas gigante em identidade e espírito comunitário, a cidade se consolida como exemplo de desenvolvimento sustentável e valorização cultural no Espírito Santo.
Como bem definiu Jorge Kuster Jacob:
“A emancipação não foi um ponto final, mas um processo contínuo. Ela nos ensina que, quando o povo se une, até o impossível vira realidade.”