
À medida que se aproxima mais uma edição da Pomitafro, festa que celebra as raízes pomeranas, italianas e africanas em Vila Pavão, o município se prepara para viver novamente um dos maiores movimentos culturais do norte capixaba. O que começou como uma simples festa escolar no distrito de Córrego Grande, evoluiu ao longo dos anos e se transformou em um poderoso símbolo de identidade e integração cultural.
Mais do que um evento anual, a Pomitafro representa uma verdadeira reunião de manifestações culturais: línguas, danças, músicas, religiosidade, culinária, artesanato, arquitetura e vestimentas dos diversos povos que compõem a história local, incluindo pomeranos, italianos, africanos, holandeses, indígenas e até japoneses. Para além da celebração, trata-se de um movimento cultural que impulsiona o desenvolvimento sustentável e o resgate da autoestima das comunidades envolvidas.
Com esse espírito, as empresárias Erlania Boldt e Hermelinda Harchibarte Boldt, mãe e filha, decidiram investir em uma área ainda pouco explorada na região: a confecção de trajes típicos. Proprietárias da tradicional loja Aquárius Moda Íntima, com 18 anos de atuação em Vila Pavão, elas identificaram na crescente demanda por indumentárias para festas culturais uma oportunidade de valorizar as raízes locais e, ao mesmo tempo, gerar renda. Vale destacar que Luiz Harchibart, pai de Hermelinda, foi um dos mais renomados tocadores de concertina do município, contribuindo para manter viva a tradição musical pomerana.

“Costuramos trajes que contam a história e a identidade cultural de cada povo. É preciso adaptar os modelos à realidade climática e social da nossa região. Um traje pomerano, por exemplo, precisa ser pensado para o calor capixaba, sem perder sua essência. Queremos algo que seja ‘pomerano em solo brasileiro’, como costumo dizer”, destaca Erlaniea.
Hermelinda relembra com carinho a influência do pai na construção dessa memória cultural: “Ele usava um chapéu de feltro com uma pena, uma camisa leve de tergal e uma calça simples. Tudo adaptado ao nosso clima. Não era nada luxuoso, mas carregava tradição.”
A dupla também confecciona roupas caipiras e aluga trajes típicos, atendendo à crescente procura de grupos culturais, igrejas e escolas de Vila Pavão, Nova Venécia e até de municípios vizinhos, como Jaguaré, que recentemente sediou sua 1ª Festa Pomerana. O sucesso da iniciativa fez com que novos trajes fossem encomendados para atender ao grupo de dança recém-criado, que já atraiu a adesão de jovens, adultos e membros da comunidade luterana local.
Apesar do entusiasmo e da criatividade, as empresárias enfrentam desafios para expandir a produção. “A maior dificuldade hoje é encontrar mão de obra qualificada”, afirmam. Ainda assim, seguem firmes com o propósito de transformar o passado cultural em oportunidade de futuro.
“A cultura tem o poder de transformar. Quando costuramos um traje típico, não estamos apenas criando uma roupa, mas ajudando a construir identidade, fortalecer a tradição e impulsionar a economia local”, concluem.