
Se tem uma história que mistura lenda, religião e prazer é a do café. Tudo começa lá na Etiópia, no embalo da tradição oral: um pastor chamado Kaldi percebeu que suas cabras, depois de mastigar umas frutinhas vermelhas, ficaram ligadíssimas, pulando sem parar.
Curioso, Kaldi levou as cerejas mágicas para um monge da região, e dali, o café começou sua longa viagem pelo mundo, ganhando fama primeiro com o povo árabe, ainda no século 15. Virou parceiro das madrugadas, das orações intermináveis e dos estudos profundos.
Quando finalmente chegou à Europa, no século 17, o café causou. De cara, foi visto com maus olhos por parte da Igreja Católica: bebida de muçulmanos, “coisa do diabo”, diziam. Num continente que reverenciava o vinho como símbolo sagrado, aquela novidade escura e excitante parecia suspeita demais.
Mudança de rumos
A história mudou de rumo quando chamaram o papa Clemente VIII para provar o tal “elixir satânico”. Reza a lenda que, depois de um gole, ele sorriu e disse: “Essa bebida do diabo é boa demais para deixar só com os infiéis. Vamos batizá-la!”. Pronto: com o aval do chefe da Igreja, o café foi canonizado na prática e virou mania europeia.
Dentro dos muros do Vaticano, o café foi ganhando espaço entre os papas e a corte papal. Clemente XIV, que governou entre 1769 e 1774, era um verdadeiro coffee lover: não só bebia como oferecia xícaras fumegantes aos visitantes mais ilustres, fazendo do café um gesto de charme e hospitalidade.
Assim, o Vaticano acompanhou a evolução do café no mundo, desde as primeiras infusões rústicas até os sofisticados espressos italianos do século 20. Nos bastidores da fé, cardeais, bispos e papas sempre encontraram num bom café uma pausa gostosa entre as grandes decisões.
Café brasileiro no Vaticano
E olha só que bonito: a partir de 2009, o café que chegava ao Vaticano e que encheu a xícara do querido papa Francisco em 2013 vinha direto do Brasil, mais precisamente da Fazenda Aranquan, em Ibicoara, na Bahia.
A fazenda fez o fornecimento do café ao Vaticano até 2013. Na época, a sede da Igreja Católica abriu uma concorrência entre cafés de diversas origens, e o grão da Aranquan, que era orgânico (por exigência do Vaticano) e biodinâmico foi o escolhido.
Hoje, o café da Aranquan, sob a tutela da marca Latitude 13, pode ser encontrado, por exemplo, até na Dinamarca.
Assim, de bebida proibida a santo remédio para a alma e para o corpo, o café trilhou uma jornada cheia de fé, sabor e encontros inesquecíveis, provando que, até na história da Igreja, sempre cabe mais um gole.
Informações CNN.