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O Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF/ES) instaurou um procedimento investigativo criminal para apurar a conduta de um professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Manoel Luiz Malaguti é acusado de cometer atos racistas. De acordo com os alunos do curso de Ciências Sociais da universidade, ele teria dito, durante uma aula, na segunda-feira (3), que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”. Ainda segundo os estudantes, ele também teria afirmado que os alunos cotistas haviam diminuído o nível da universidade.
A apuração será conduzida pelo procurador da República Ercias Rodrigues de Sousa. Ele expediu ofício, nesta quarta-feira (5), para o reitor da Ufes, Reinaldo Centoducatte, solicitando que, em 48 horas, a universidade apresente o nome do professor; a lista dos alunos presentes na aula onde o fato teria ocorrido; e a cópia da representação dos alunos, solicitando a apuração dos fatos. O procurador também solicitou informações quanto às providências internas já adotadas pela Ufes. Tanto os alunos quanto o professor serão ouvidos.
O procedimento foi instaurado após representação criminal apresentada pelo desembargador Willian Silva, na terça-feira (4). Ele noticiou ao MPF que “um professor do Departamento de Economia da Ufes, lecionando aos alunos de Ciências Sociais adotou um discurso evidentemente preconceituoso em relação aos alunos negros, destacando a necessidade de utilizar linguagem mais acessível e baixar o nível do ensino para que tais discentes pudessem acompanhar a aula”.
Sindicância
O centro de ensino onde o professor está lotado abriu uma sindicância para confirmar o fato. Diante das declarações de Malaguti – até mesmo para a imprensa -, a universidade decidiu instaurar um inquérito administrativo para analisar o episódio, o que deve acontecer dentro de 90 dias.
A punição pode ir desde advertência até a exoneração do servidor. O professor foi suspenso de todas as aulas até a conclusão da sindicância.
Em entrevista coletiva, Reinaldo Centoducatte informou que a Ufes adotou a política de reserva de vagas para negros em 2007 e que não compactua com qualquer tipo de discriminação.
“Na nossa universidade, somos contra qualquer tipo de discriminação social, racial, de opção sexual, de gênero. Nós vivemos em uma sociedade plural, complexa e com imensas desigualdades sociais. Todos nós somos membros dessa sociedade e devemos nos respeitar enquanto seres humanos”
Protesto
Nesta quarta-feira, dezenas de estudantes se uniram em um ato público na Ufes. Cabelos lisos, crespos e até coloridos circularam pela universidade pedindo o fim do racismo e a saída do professor da universidade.
alunos entraram no prédio da reitoria, mostraram cartazes e fizeram barulho. Chegaram a comparar a atitude do professor à filosofia nazista!
“Se na academia está assim, imagina lá fora o tipo de pessoa que estão formando. Disseminando o preconceito entre os próprios estudantes dentro da universidade”, afirmou a estudante de Artes Visuais, Thiara Pagani.
Aluno negro e cotista, o estudante de Ciências Sociais, João Victor dos Santos, cobra mudanças na própria universidade. Segundo ele, um lugar lembrado pela mistura e pela diversidade deveria dar mais espaço à cultura negra
“A própria universidade é racista. Quando ela não implementa a lei que institui a cultura e a história afrobrasileiras nas escolas, aprovada há 11 anos. A Ufes forma professores que não têm domínio de cultura negra, africana e indígena”, protestou.
Informações: Portal Sim Notícas