O Brasil passou os Estados Unidos e se consolidou como o maior consumidor de café do mundo, segundo levantamento da Euromonitor Internacional. Em média, o brasileiro toma 839 xícaras de café por ano. Dá mais do que duas por dia.
O mercado está em expansão e em especial o nicho de cafés especiais. Segundo a associação que reúne as indústrias, o mercado do café no Brasil vive a terceira a onda. A primeira trouxe o café para dentro de casa. O tipo instantâneo e a embalagem a vácuo. Na segunda onda, surgiram as cafeterias com bebidas também a base do expresso. A terceira onda chega com o surgimento de marcas regionais. Novas técnicas de fabricação. O consumidor começa a descobrir o sabor do café.
A a quarta onda já está chegando, aquela onde além da experiência, cada vez mais, o consumidor quer exclusividade no café. Na loja da empresária Gelma Franco, por exemplo, o cliente pode criar o próprio blend, a própria mistura, por meio de um app. No aplicativo, o cliente marca aroma de entrada, secundário, corpo, acidez, doçura e sabor residual. O cliente leva para casa os grãos e em casa faz todo o processo de torra e moagem, ou já leva o saquinho pronto para consumir.
Novas variedades
Barista e sócio de uma cafeteria em Brasília, Vitor Ávila também identifica este movimento por um maior interesse em cafés diferentes e especiais.
“Pessoas estão começando a entender que café pode ser uma bebida mais complexa do que vinho, cerveja. Por isso, há tantas cafeterias e torrefações abrindo.”, destaca.
Segundo ele, há um trabalho com pequenos produtores, mas também os grandes estão saindo do que chamou de “café de commodity”. O país estaria rumando a um “viés de qualidade”.
Com isso, continua Ávila, o Brasil estaria se aproximando de nações com maior tradição em cafés especiais, como na América Central e na África.
“A gente é o maior produtor de café, mas não somos o produtor de café especial do mundo. O Brasil está se encaminhando para ser um dos maiores do mundo.”, acredita.
Mas há quem prefira ficar no básico. “Gosto do tradicional, o pó embalado a vácuo, sentir aquele cheiro irresistível quando está sendo coado, no filtro de papel ou no velho coador de pano.”, comenta a bancária Salete Gomes. “Tenho uma máquina Nespresso, às vezes é meu “momento Gourmet “, mas nada substitui o bom café coado.”, diz a professora de francês Rebeca Porto.
Impactos na saúde
A nutricionista Valéria Paschoal, da VP Centro de Nutrição Funcional, explica que os efeitos do café na saúde são diferentes em cada pessoa.
“Há pessoas que tomam o café e pequenas quantidades têm impacto na saúde, como maior hiperatividade, dificuldade de ter relaxamento, mas é coisa individual”, comenta.
Segundo ela, em termos gerais, estudos mostram que até 360 miligramas (o equivalente a seis xícaras de cafezinho) não tem consequência nenhuma na saúde.
“Há estudos mostrando que, para crianças tomar café pela manhã, pode ter benefícios na atividade cognitiva.
Outras pesquisas demonstram que o cafestol, o fitoquímico presente no café, tem atividade antioxidante na prevenção de várias doenças, afirma.
Para avaliar se o consumo acima desses parâmetros terá impactos negativos na saúde, acrescenta a nutricionista, é preciso averiguar diferentes elementos e características, como o quadro gástrico do indivíduo. O mesmo vale para os efeitos de agitação sobre o sono para quem toma a bebida à tarde ou à noite. De acordo com o metabolismo, as pessoas podem ou não sentir reações.
Uma quantidade acima pode prejudicar a absorção do cálcio, facilitando a ocorrência do osteoporose. Ela sugere o consumo do café orgânico, e no preparo coado.
“Este é o mais saudável”, recomenda a nutricionista.
As regiões produtoras de café
Cerrado Mineiro – 100% Arábica. Os cafés do Cerrado de Minas Gerais são caracterizados pela bebida fina, corpo forte e excelentes aroma e doçura. São produzidos em altitudes entre 800m e 1.200m. A região tem estações bem definidas: verões quentes e chuvosos seguidos por invernos secos e frios. Ou seja, o clima ideal para o cultivo de cafés naturais de alta qualidade. O padrão climático do Cerrado é singular e ajuda a produzir excelente café Arábica processado por via natural (secos ao sol). A florada é concentrada, o amadurecimento é uniforme e é acompanhado por bastante luminosidade, ajudando a fixar aroma e doçura.
Sul de Minas– 100% Arábica. São cafés que atingem as melhores classificações de bebida (mole ou estritamente mole), encorpados com alta acidez e um sabor doce característico. O Sul de Minas é a maior região produtora de cafés Arábica do Brasil. Tem altitudes entre 850m e 1.250m e temperatura média anual entre 22 e 24°C. As variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo, mas também há lavouras das variedades Icatu, Obatã e Catuaí Rubi.
Mogiana – 100% Arábica. A bebida produzida nesta região é bastante encorpada, com aroma frutado e sabor suave e adocicado. Uma das mais tradicionais regiões produtoras de café Arábica, a Mogiana está localizada ao norte do estado de São Paulo, com cafezais a uma altitude que varia entre 900 e 1.000 metros. A temperatura média anual é bastante amena em torno de 20°C. A região produz somente café da espécie Arábica, sendo que as variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo.
“Pessoas nem conseguem entender porque elas tomam café, mas elas tomam todos os dias.”, diz Victor Ávila, barista e dono de uma cafeteria em Brasília.
“Além de apreciar o gosto, tenho memórias afetivas com café, lembrando dos lanches na casa das minhas avós; de acordar com o cheirinho do café passado por minha mãe”, conta a médica Camila Damasceno. Ela toma o tradicional cafezinho todos os dias, “pelo menos quatro vezes”.
A servidora do Banco do Pará, Salete Gomes, tem o mesmo hábito, consumindo a bebida diariamente. No fim de semana, ela tenta tomar apenas após o almoço, mas durante a semana conta que não consegue ficar sem. “Normalmente quando não tomo café pela manhã, mesmo que faça o desjejum, sinto dor de cabeça.”
Paraná – 100% Arábica. Os cafés produzidos no norte do Paraná proporcionam uma bebida extremamente encorpada, com um amargo acentuado, aroma caramelizado e acidez normal. A altitude média é de 650 metros, sendo que na região do Arenito, a altitude é de 350 metros e na região de Apucarana chega a 900 metros.
Bahia – Robusta e Arábica. Os grãos proporcionam uma bebida com sabor suave, levemente achocolatado, pouco corpo e com notável acidez. Há três regiões produtoras consolidadas: a do Planalto, mais tradicional produtora de café Arábica; a Região Oeste, também produtora de café Arábica, sendo uma região de Cerrado com irrigação e a Litorânea, com plantios predominantes do café Robusta (Conilon). Na Região Oeste, existe um número cada vez maior de empresas utilizando café irrigado, contribuindo para a consolidação do Estado como o quinto maior produtor do país.
Espírito Santo – Robusta e Arábica. As lavouras de Robusta ocupam a grande maioria do parque cafeeiro estadual e respondem por quase 2/3 da produção brasileira da variedade que se expandiu principalmente nas regiões baixas, de temperaturas elevadas. O Estado coloca o Brasil como segundo maior produtor mundial de Robusta.
Rondônia – 100% Robusta. Rondônia é o sexto maior Estado produtor de café e o segundo maior produtor de Robusta do país. A produção é constituída exclusivamente de café Robusta.
Consumo
De acordo com o Sumário Executivo do Café – Outubro de 2019, da Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Vietnã, segundo maior produtor mundial, produziu 29 milhões de sacas de 60kg somente da espécie canéfora (robusta) no ano cafeeiro 2018/2019, volume físico equivalente a 16,6% da produção total mundial. A produção da variedade para o ano 2019/2020 foi estimada em 70,5 milhões de sacas, e a vietnamita poderá corresponder a 41% desse volume.
O Brasil teve sua safra total estimada em 49 milhões de sacas, número que representa 28% da produção mundial, incluindo as espécies arábica e canéfora. Tal produção contempla 34,5 milhões de sacas de café arábica, que equivalem a 33% da produção mundial, e 14,5 milhões de sacas de canéfora, as quais correspondem a 21% do volume físico produzido dessa espécie no mundo. Essa performance posiciona o Brasil em primeiro lugar na produção de café arábica e em segundo lugar na produção de café canéfora.
Em relação à Colômbia, que é o terceiro maior país produtor de café no mundo, cuja safra é exclusivamente da espécie arábica, colherá, nesse ano-cafeeiro, 14,3 milhões de sacas, que correspondem a 14% da produção mundial da variedade e 8,2% da produção total de café no planeta (arábica + canéfora).
Para fins da análise, a safra mundial de café do ano-cafeeiro 2018/2019 foi calculada em 174,5 milhões de sacas, sendo 104 milhões de sacas da espécie arábica (60%) e 70,5 milhões de sacas de 60kg de café canéfora (40%).