
Há mais de 20 anos presente no Brasil, a irrigação por gotejamento subterrâneo (conhecida como Sistema de Gotejo Enterrado – SDI) ganha espaço em lavouras de café e cana-de-açúcar no Norte do Espírito Santo. Testada desde 2023 nas cidades de Linhares e Jaguaré, a técnica tem surpreendido produtores com resultados como economia de água, redução de ervas daninhas e aumento expressivo da produtividade – em alguns casos, triplicando a colheita.
Como funciona o gotejamento enterrado?
O sistema consiste em instalar mangueiras subterrâneas que levam água e fertilizantes diretamente às raízes das plantas. A profundidade varia conforme a cultura: no café, por exemplo, os tubos são enterrados a 15 centímetros do solo, enquanto na cana-de-açúcar a instalação ocorre antes do plantio.
Entre as vantagens destacadas por especialistas estão:
- Economia hídrica: a aplicação direta na raiz evita desperdícios por evaporação;
- Controle de pragas: reduz a proliferação de plantas invasoras;
- Durabilidade: as mangueiras ficam protegidas de danos causados por animais ou ferramentas;
- Versatilidade: adapta-se a culturas perenes, grãos, frutas e hortaliças.
Para o café, a técnica só pode ser aplicada após a planta completar oito meses. Já na cana, o sistema é implantado antes do cultivo, garantindo uniformidade no desenvolvimento.

Produtores comemoram resultados
Em Jaguaré, o cafeicultor Ataydes Armani adotou o SDI há um ano em 23 hectares de café conilon. Além de reduzir custos com mão de obra e manutenção, ele observou maior eficiência nas colheitas. “A mangueira enterrada facilita o trabalho diário e mantém a produtividade alta, como se estivesse na superfície”, comemora. Armani planeja expandir para 46 hectares ainda em 2024 e prepara nova área de 55 hectares.
Na cana-de-açúcar, os números são ainda mais impactantes. Em uma agroindústria de Linhares, a produtividade saltou de 40 para 120 toneladas por hectare após a implantação do sistema em 250 hectares. “A irrigação uniforme de água e nutrientes resultou em plantas mais altas e saudáveis. Nossa meta é chegar a 140 toneladas nesta safra”, afirma Rafael Soares Raso, superintendente da propriedade.
Vantagens além da economia
Segundo o doutor em agronomia Ailton Dias, o SDI é ideal para climas tropicais, como o do Espírito Santo, onde a escassez hídrica é desafio constante. “Além de fortalecer as plantas, o sistema protege os tubos de avarias externas, o que prolonga sua vida útil”, explica.
Com os resultados positivos, a expectativa é que a técnica se espalhe para outras culturas no estado. Enquanto isso, produtores como Armani e Raso já veem no gotejamento subterrâneo um caminho para aliar sustentabilidade e lucratividade – prova de que, às vezes, as soluções mais eficazes estão literalmente sob nossos pés.