Vila Notícias
Por Jorge Kuster Jacob – Sociólogo, pesquisador e professor do CEIER de Vila Pavão
Organização: Eliana do Nascimento
Quem vem a Vila Pavão, que completa neste 1º julho 24 anos de emancipação, fica realmente impressionado com a tradição cultural do seu povo, suas belas formações rochosas, sua culinária e várias outras peculiaridades que dão ao município características muito especiais.
Com uma forte agricultura familiar, com predominância das lavouras cafeeiras em renovação, pecuária em expansão, e a suas diversificadas jazidas de granitos, em especial, o Verde Pavão e o Granulado só existentes na cidade, muito disputadas pelo mercado Europeu, o município, guardadas as proporções, vem se destacando no cenário econômico e cultural capixaba.
A cidade possui índices baixíssimos de criminalidade. A religiosidade é um assunto que sempre está em pauta na região. Em recente estudo do SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o município figurou entre os que oferecem aos empreendedores, as melhores condições de investimento.
Emancipação
O Município de Vila Pavão foi emancipado de Nova Venécia no dia 01 de julho de 1990 (dia do Plebiscito também oficializado como o dia da Cidade). O seu território pertencia à Nova Venécia que na época era distrito de São Mateus, colonizado na década de 1920 por caboclos que fugiam da seca do sertão mineiro e baiano e por madeireiros que ganhavam dinheiro com a nobre madeira existente nessa parte da Mata Atlântica. Os antepassados lembram que apenas as toras grandes eram aproveitadas. E elas ficavam próximos ao Rio Cricaré, na parte sul do município, uma vez que eram arrastadas por juntas de bois até o rio e de lá levadas pelas correntezas até São Mateus.
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Depois, nos anos de 1940 chegaram os três grupos que dariam identidade a Vila Pavão: algumas famílias afro-descendentes ocuparam a região de Todos Santos e do Córrego Santo Estevão. Os pomeranos em grande maioria ocupava o então distrito de Córrego Grande especialmente a sede, Córrego da Lajinha, Córrego da Peneira, Córrego do Mutum, Praça Rica e Córrego do Sossego e os italianos no Córrego das Flores, Córrego do Paraíso e Córrego da Rapadura. O nome Vila “Pavão” foi colocado, assim como muitos nomes no Brasil, por tropeiros. Os tropeiros e suas tropas, principal meio de transporte no Brasil nesse período e por muitos séculos antes, pernoitavam numa enorme e única casa numa encruzilhada, onde hoje fica o centro de Vila Pavão. Essa casa, como muitas, tinha um desenho na varanda. Era o desenho desse famoso pássaro de origem indiana. Os tropeiros pernoitavam, descansavam e alimentavam suas tropas na “Casa do Pavão” mais tarde na “Vila Pavão”.
As primeiras famílias que vieram habitar essa região vinham pelo sul do município, próximo ao patrimônio de São Gonçalo, atravessavam a parte rasa do Rio Cricaré.
Na década de 1950, com a abertura da estrada de Vila Pavão a Nova Venécia feita a enxadão coordenado pela família Reblin, a madeira mais distante passaria a ser transportada por caminhões até Nova Venécia. Nesse período grande levas de imigrantes pomeranos e italianos vem da região serrana (Afonso Claudio, Laranja da Terra, Santa Leopoldin), Pancas (Lajinha), Baixo Guandu, Aimorés (Itueta) para Vila Pavão que na época pertencia a Nova Venécia que se estava emancipando de São Mateus (1954) .
Esses imigrantes filhos de colonizadores que não tinham mais como herdar terras nessas regiões do estado. Nesse período vinham para ajudar o mais novo município do Espírito Santo na sua autonomia econômica e política.
Distrito de Córrego Grande
Vila Pavão ou o Distrito de Córrego Grande em pouco tempo transformou-se no principal distrito de Nova Venécia e 30 anos depois já teria condições de ser município também.
No final da década de 1960, com a política de erradicação do café e o aumento do número de filhos, muitos pavoenses migraram para Rondônia, especialmente com destino ao Espigão do Oeste, que era distrito do município de Pimenta Bueno, e de acordo com a estatísticas Vila Pavão na época perdeu em torno 40% de sua população nesse processo migratório.
Na década de 1980, se não fosse esse maciço processo de emigração para Rondônia e a crise na cafeicultura, Vila Pavão ter-se-ia emancipado se também tivesse tido força política. Hoje o município tem aproximadamente 9000 habitantes, mas na década de 1970, o distrito de Córrego Grande tinha apenas 16000.
A agricultura familiar no município é sua principal característica e ainda hoje é o setor que mais emprega e gera renda em Vila Pavão. As lindas elevações de granito denominadas “pedras” que fazem da nossa paisagem uma das mais lindas da região e do Brasil. Granito que hoje também faz de Vila Pavão ter uma das maiores jazidas deste produto no mundo. Localizada no norte do Espírito Santo, Vila Pavão faz limites com Ecoporanga, Barra de São Francisco e Nova Venécia.
Vila Pavão está localizada a 268 km de Vitória, 29 km de Nova Venécia e 48 km de Barra de São Francisco. A área do seu território é de 435km2. Além da sede o município tem as vilas de Praça Rica (15 km) e Todos Santos (17 km) como principais aglomerações urbanas. O nome distrito de Córrego Grande vem da sua paisagem natural e hidrográfica formada por centenas de córregos que nos proporcionam visualizar lindas cachoeiras, lagos e represas, além do Rio XV e Rio Cricaré. Alguns desses córregos, o Rio XV e o Rio Cricaré servem de limites de grande parte da nossa área geográfica.
A luta
A história de um novo município geralmente começa com a organização do povo de um distrito. A busca pela sua libertação começa no conhecimento dos seus direitos como cidadãos, do grau de conscientização de sua população e da sua organização política. O desenvolvimento cultural e econômico de um distrito estimula o povo a se organizar e lutar para sua emancipação política. O papel de suas lideranças políticas, comunitárias, sindicais, estudantis, religiosas é fundamental nesse processo de libertação. A capacidade dessas lideranças de conscientizar e articular sua população é o caminho para sua emancipação.
Com Vila Pavão não foi diferente. O distrito de Córrego Grande que tinha como sede Vila Pavão bem que poderia ter emancipado durante a década de 1980 quando a economia, especialmente agrícola estava em alta e o café, seu principal produto, colocava o distrito em destaque como um dos principais produtores do nosso Estado. Mas faltava a consciência política naquele momento que tínhamos condições econômicas e certamente não políticas. Na década de 1990, mesmo com a queda na economia a conscientização política, a participação das escolas, igrejas, professores e estudantes foram determinantes. Se na década anterior havia melhores condições econômicas e menos consciência política na década seguinte isso se inverteria.
A participação da sociedade civil no processo de Emancipação política de Vila Pavão pode servir de exemplo para tantas outras lutas. O primeiro passo do processo, que foi a formulação de um abaixo-assinado, não teve a participação popular organizada. Mas depois com a entrada do Centro de Integração de Educação Rural/CIER e do esforço do Vereador Antônio Teixeira Maria (PT) que o processo foi organizado e decisivo. O grande problema estava na organização da nossa economia, especialmente na arrecadação de impostos. Com certeza, apesar da crise no setor, ainda tínhamos condições financeiras para manter um corpo administrativo e toda estrutura para iniciar e fazer um município desenvolver.
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