A tradicional receita do brote, um pão de origem pomerana e símbolo da culinária de Vila Pavão, no Espírito Santo, ganhará ainda mais destaque no cenário da panificação brasileira. A iguaria será apresentada em uma das mais conceituadas revistas do setor, a Panificação Brasileira, que recentemente elegeu os 1000 melhores padeiros do país.
O responsável por levar o sabor e a história do brote a um público ainda maior é o padeiro João Carlos Butske da Silva. Com 26 anos de experiência e raízes pomeranas, João Carlos tem se dedicado a pesquisar a origem e a importância cultural do brote, buscando aprimorar a receita original de sua avó.
“Apesar de ter adaptado a receita, sinto a necessidade de voltar às minhas raízes e resgatar a essência do brote”, afirma João Carlos. “Quero que essa receita represente não apenas o meu trabalho, mas também a rica história da comunidade pomerana de Vila Pavão.”
O padeiro capixaba será um dos representantes brasileiros no concurso dos 100 melhores padeiros do país e também no concurso Melhor Padeiro das Américas, que será realizado em Joinville (SC), pela Confederação Interamericana da Indústria do Pão (CIPAN), entidade que reúne empresas do setor de panificação das Américas. João Carlos acredita que o brote tem o potencial de conquistar paladares em todo o Brasil e até no continente americano.
Nascido no Córrego do Estevão, em Vila Pavão, João Carlos iniciou sua trajetória na panificação em 1998, na Padaria Salute, em Nova Venécia. Ao longo dos anos, desenvolveu uma paixão pelo ofício e se tornou um dos nomes mais respeitados do setor no Brasil.
A inclusão da receita do brote na revista Panificação Brasileira e a participação de João Carlos nos concursos nacionais e internacionais são um reconhecimento ao talento e à dedicação do padeiro capixaba.
A História do Brote
O brote é um pão de milho que surgiu em 1857, quando os pomeranos que chegaram ao Espírito Santo enfrentaram dificuldades para cultivar trigo no clima tropical. Como alternativa, substituíram o trigo pelo milho na fabricação do pão.

A receita original incluía fubá, que era produzido em moinhos movidos a água, além de fermento natural. Ingredientes como batata-doce, cará, inhame e mandioca eram ralados e adicionados à massa, que, em seguida, ia para o forno à lenha.
O brote pode receber diferentes nomes, dependendo dos ingredientes. É conhecido como “Mijabroud” (pão de milho) e “Bananabroud” (brote de banana), entre outras variações. O uso de uma folha de bananeira no fundo da forma e o aquecimento adequado do forno são elementos essenciais para a qualidade do produto.
Por muito tempo, os pomeranos tinham vergonha de consumir o brote, sendo chamados pejorativamente de “broteiros”. Hoje, essa tradição é vista com orgulho, como símbolo da força de um povo cuja cultura não foi preservada em seu país de origem, extinto. Os jovens de Vila Pavão valorizam sua identidade, e o brote se transformou em um símbolo de resistência cultural.
Brote pode se tornar Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo

Um projeto de autoria do deputado estadual Adilson Espindula (PDT) propõe o Projeto de Lei (PL) 28/2023, que visa reconhecer o brote como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo.
O projeto, que está em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado, já recebeu parecer favorável das Comissões de Constituição e Justiça, Cultura e Finanças. Caso seja aprovado, a nova lei entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial.
Alem disso, Vila Pavão recentemente criou, por meio da Câmara Municipal, a Lei 1.551, que dispõe sobre o Programa Permanente de Tombamento e Registro do Patrimônio Cultural. “Por meio dessa lei, faremos o registro dos bens do patrimônio cultural imaterial do município. Um dos saberes e fazeres que será protegido pela lei é o nosso brote. Além dele, estão na lista os grupos folclóricos, a língua pomerana, os tocadores de concertina e muitos outros importantes aspectos culturais locais“, destacou a secretária Municipal de Cultura e Turismo, Libian Timm Paganoto.
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