01 de julho é um dia especial para Vila Pavão. Para muitos é o dia mais importante da sua história. Nesse dia chuvoso e frio, no ano de 1990, há exatamente 30 anos os pavoenses foram às urnas e disseram “sim” ao desmembramento do então, distrito de Córrego Grande do município de Nova Venécia.
Vila Pavão foi e continua sendo um município de agricultores familiares. Cerca de 70% de sua população ainda mora no interior. No dia do plebiscito, a chuva não dava treva. Assim dos 3.837 eleitores só vieram votar 2.290 eleitores. 1.547 não compareceram. Destes, 2,123 disseram “sim”. Apenas, 108 votaram não; 32 anularam o voto e 27 votaram em branco
Para efetivar a emancipação era necessário cumprir cinco etapas. 03 haviam sido conquistadas. O aval da população com o “sim”nas urnas era o penúltimo critério. O ultimo era a sanção em praça pública. Então, no dia 11 de janeiro de 1991 o Governador do Estado do Espírito Santo na época, Max de Freitas Mauro veio ao futuro município e sancionou a lei, em palanque improvado em cima de um caminhão no centro da cidade.
A primeira eleição
Mas ainda foi preciso esperar mais de um ano para o recém criado município eleger seus primeiros representantes.
A primeira eleição para prefeito e Câmara Municipal aconteceu no dia 03 de outubro de 1992.
Algo inédito aconteceu nessa eleição. Dois pastores da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil/IECLB): Erno Júlio Dieter pelo PDT (apoiado pelo PMDB e PT e Aroldo Felberg (PSDB), apoiado pelo então prefeito de Nova Venécia Walter De Prá, coligado com os partidos PTB e PFL, disputaram o pleito.
Erno Dieter venceu e nove vereadores foram eleitos. É importante destacar que Erno foi empossado prefeito no dia 1º de janeiro de 1993 em praça pública, na varanda da Casa que abrigou a Prefeitura e que hoje foi transformada na secretaria de Cultura e Turismo do município. Outro fato importante: a primeira sessão legislativa aconteceu na Escola Ana Portela de Sá. Na época a escola funcionava no centro da cidade, local onde hoje está sendo construída uma praça multiuso pela atual administração.
Os eleitos na primeira eleição de Vila Pavão governaram o município no período de 1º de janeiro de 1993 a 31 de dezembro de 1.996.
Pelo protocolo, a emancipação de Vila Pavão deveria ser lembrada em 11 de janeiro de 1991, quando a lei de emancipação foi assinada, no entanto, lideranças da época optaram pelo dia 1º de julho de 1990, dia do plebiscito, uma forma de exaltar a mobilização, união e esforço da população, que após um árduo processo, finalmente conseguiu atingir o objetivo.
Grupo Emancipavão
Para tratar da emancipação, foi criado o Grupo EmanciPavão que reunia professores, lideranças políticas e religiosas, comerciantes, agricultores entre outros. O grupo surgiu por iniciativa dos professores do CEIER (Centro Estadual de Integração de Educação Rural) que já havia criado a Pomitafro (Evento cultural Pomerana, Italiana e afro) e grêmios Estudantis.
Segundo registros históricos, por iniciativa do Vereador Antônio Maria Teixeira (PT) (in memoriam) e dos professores do CEIER, representantes da sociedade civil organizada foram convidados para acompanhar e pressionar autoridades no sentido de buscar a emancipação politica do distrito. Anteriormente, o professor Hélio Timm e o escrivão Alfredo Vignati já haviam encaminhado um abaixo assinado com mais de 100 assinaturas.
Para o pesquisador e professor Jorge Kuster Jacob, um dos articuladores do Grupo Emacipavão, a economia não foi o principal fator que justificou a Emacipação de Vila Pavão. O pesquisador acredita que a história de Vila Pavão como município começou com a força da participação popular. – “Se deixássemos unicamente nas mãos dos políticos da época, talvez, não teríamos conseguido. O movimento popular e a agricultura familiar foram tremendamente importante no processo”, afirma.
No período pré-emancipação, o distrito de Córrego Grande, cujo território é hoje Vila Pavão, contava com cinco vereadores na Câmara Municipal de Nova Venécia: Thedoro Braun, Ercícilo da Fonseca, Eraldino Jann Tesch, Antônio Teixeira Maria e Lorentino Foerste, o Gringo.
“Até esse momento (1985), Vila Pavão dependia muito do individualismo dos seus representantes políticos. O vereador Teixeira (PT) e a escola do CEIER com ideias progressistas resolveram chamar representantes das entidades civis organizadas para fortalecer o processo. E assim todas segundas feiras na Escola Portela de Sá, no centro da cidade às 19 horas havia uma reunião para encaminhar e acompanhar o processo de emancipação. Por outro lado, havia na época, as forças conservadoras que além de não participar das reuniões, atuavam para desarticular o processo”. conta o pesquisador.
O Grupo Emancipavão trabalhava também no sentido de estimular a arrecadação de impostos do distrito, o principal requisito para justificar a emancipação política. Através de visitas a setores da economia local como compradores de café e comércio, articulávamos para que os produtos fossem guiados devidamente no território de Córrego Grande, de forma a evitar o vazamento de tributos para municípios vizinhos.