Vander Vigne
Pesquisa divulgada recentemente diz que o professor brasileiro gasta 20% da aula mantendo a disciplina dos alunos. A pesquisa foi realizada em 32 países e o Brasil ficou com o pior desempenho. O mestre passa bom tempo chamando atenção dos alunos.
As informações são da edição 2013 da Talis, Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem coordenada mundialmente pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O levantamento foi divulgado na manhã desta quarta (25).
Nos países da OCDE, o professor trabalha em uma única escola, em tempo integral e leciona, em média, 19 horas. Aqui no Brasil, a jornada dobra se pensarmos que os docentes trabalham 26 horas em mais de uma escola e em salas maiores”, diz a pesquisadora Gabriela Moriconi .
Mas para nossa tristeza, esta pesquisa deve estar bem desatualizada. Talvez, houve um erro de divulgação, A pesquisa deveria dizer “ apenas 20% do tempo escolar é dado aula”. Quem é professor de escola pública sabe o que estou dizendo, vamos aos fatos para os demais: Entre o intervalo de uma aula e outra se perde cerca de 20% do horário, porque os alunos nunca esperam dentro da sala. O professor sai juntando alunos no corredor e depois que estão dentro da sala gasta mais 2 minutos pedindo silêncio. Quando finalmente vai começar a aula, alguns alunos não trazem o material, mais 2 minutos até que se agrupem.
Agora vai. Não, ao iniciar o conteúdo é preciso revisar o que foi visto no dia anterior porque a maioria não se lembra do conteúdo, outros nem sabem que teve conteúdo. Não é raro ao iniciar uma aula de Física, por exemplo, e um aluno exclamar: “Agora é aula de Física ?”
Depois vêm as idas ao banheiro e ao bebedouro, que ás vezes é só de ida mesmo. Mais pelo menos o professor vai conseguir passar o que planejou… Epa! Lá vem o coordenador, pedagogo ou diretor com aquele aluno que o educador nem sabia que estava na escola e questiona: “ Professor, por que este aluno não está assistindo aula?’. Pronto, agora o professor lembra do conselho de seu pai: “ Filho, melhor trabalhar na roça comigo”.
Mas agora vai ter aula nota 10… Talvez, porque quando um aluno especial resolve mostrar seus talentos (e não são poucos), aí a aula ‘vai pro brejo’. Alguns professores entendem que o aluno especial é tão especial que merecia ter salas exclusivas para eles, não para isolá-los, mas para poder integrá-los a partir do momento que se poderia dar lhes a devida atenção.
Enfim, se a aula terminar sem brigas e o professor não apanhar durante a aula, já foi lucro. Não houve aprendizado escolar, mas se aprendeu mais uma vez que uma escola de qualidade não pode ter mais que 20 alunos por turma, que não pode haver sucessivas recuperações paralelas, que a função do educador é mediar conhecimentos e não policiar alunos, que as provas deveriam ser aplicadas pela federação desobrigando o professor dar notas para quem não faz nada durante o trimestre.
Talvez eu também tenha me precipitado em dizer que se aproveita 20% do tempo escolar. Ou quem sabe todo o sistema educacional esteja desatualizado para o mundo moderno.